- Área: 720 m²
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Fotografias:Francisco Rocha, Mateus Sá
Descrição enviada pela equipe de projeto. Na década de 90, a ONG Centro de Cidadania Umbu-Ganzá atuava na comunidade do Coque e captou, juntamente com o UNICEF, recursos da Rede de TV e Rádio de Luxemburgo para construção de um equipamento público a ser definido pela coletividade. Os moradores optaram por uma escola de ensino fundamental, tendo em vista a carência deste tipo de equipamento no bairro. No Coque a taxa de analfabetos funcionais para a população adulta é de 81% e para jovens entre 18 e 24 anos é de 74% (IBGE 2000). Coube à Prefeitura da Cidade do Recife adoação de um terreno de 1.700,00 m2, localizado às margens do braço morto do Rio Capibaribe, para a construção da escola.
A ONG promoveu um concurso para escolha do projeto a ser construído, com uma comissão julgadora formada por representantes da comunidade e da Secretaria de Educação do Recife.
Uma das exigências do concurso era de que a futura escola oferecesse segurança aos alunos, professores e funcionários, não fosse privada de ventilação e iluminação naturais e proporcionasse um ambiente de acolhimento às crianças da comunidade, normalmente expostas à violência doméstica e à situação de risco oferecida pelo tráfico de drogas. Além disso, grande parte da mão de obra para a construção da escola (pedreiros, serventes e ajudantes) deveria ser composta por moradores da própria comunidade do Coque.
Entendendo os anseios dos envolvidos no processo, três premissas básicas nortearam a concepção da proposta vencedora da escola e foram vitais para na decisão da escolha pela comunidade: dar ao Rio Capibaribe um protagonismo no novo cenário a ser construído;
desenvolver um equipamento de qualidade com alta performance ambiental dentro das grandes restrições orçamentárias impostas pelo concurso; e criar um produto arquitetônico resistente ao vandalismo, tendo em vista a difícil realidade social do Coque e seus altos índices de criminalidade.
A decisão de abrir o edifício ao Rio Capibaribe determinou o espírito do empreendimento: um local de formação educacional preocupado com o meio-ambiente onde todas as salas de aula se abrem para um rio poluído, e que passaria a ser observado, cuidado e transformado. A implantação em “L” gerou um pátio de preciosa qualidade espacial tanto como transição entre o rio e o edifício tanto como lugar de respiro e contemplação do mangue. A espacialidade proposta reafirmou a importância do rio e facilitou o trabalho educativo e curricular da escola para revigorar a vegetação ribeirinha e transformar a paisagem do entorno do edifício. Esta iniciativa não só alterou completamente a paisagem ao longo dos anos, como também fez mudar o próprio nome da escola que passou a se chamar Novo Mangue.
O limitado orçamento para a obra direcionou algumas decisões importantes dentro do processo de concepção de arquitetura. A condição privilegiada do terreno, com suas quatro faces liberadas, orientou o uso de grandes beirais para garantia de sombreamento dos espaços de estar e circulação. Nos fechamentos, materiais de construção à base de argila - tijolos e telhas – foram amplamente utilizados a fim de atingir a melhoria no conforto térmico do edifício.
Optou-se também por uma obra sem revestimentos e sem pintura onde a materialidade se apresentasse de forma crua, sem devaneios. Soluções em consonância com o que tradicionalmente é adotado na comunidade e de fácil entendimento por parte de uma mão de obra pouco qualificada.
A edificação foi desenvolvida a partir de septos que conduzem o usuário a uma interação direta com os pátios internos, os jardins e com o rio. A ausência de janelas foi compensada por “rasgos para se ver o céu” dentro das salas de aula que, generosos em largura e ocupando toda a fachada leste da escola, configuram um jardim interno que ilumina e permite a troca de ventilação natural. Nas paredes, a porosidade necessária em edifícios construídos nos trópicos foi conseguida com a montagem rotacionada de trechos dos tijolos, configurando uma renda de alvenaria que permite certa transparência do interior das salas de aula para o rio. Esta solução, além de evitar a sensação de confinamento no espaço interno, permitiu a constanteventilação cruzada nas salas. A opção de não ter janelas também resolveu o problema crônico do vandalismo ao dificultar arrombamentos e destruição do patrimônio com a substituição de envasaduras por pérgolas de nervuras nuas de concreto utilizadas em lajes pré-moldadas.
Apesar dos poucos recursos a construção buscou, através de soluções simples, ser porosa e adequada para as condições climáticas dos trópicos brasileiros. No tecer dos anos, a ocupação da escola foi marcada pela aceitação e acolhimento do equipamento pelo corpo docente e pela comunidade. A escola passou a ser palco de pedagogias com forte apelo à cultura popular, com a criação de grupos de música, capoeira e maracatu. A implantação da escola estimulou o reflorestamento do manguezal nas margens do Rio Capibaribe e tornou o equipamento um ponto de referência não somente para as crianças, mas para toda a comunidade, que utiliza o espaço como centro de cultura e de cidadania.
A escolha do terreno onde foi construída a escola, foi feita pela comunidade num gesto simbólico de sinal de renascimento do lugar e toda localidade. O terreno era local de "desova" dos corpos de jovens assassinados, envolvidos na guerra pela disputa do tráfico de drogas dentro da comunidade. Aquele era o lugar escolhido poi ficava às margens do rio, e isolado pelo pontilhão do metrô, um local perfeito para tocaias.
Após a implantação da escola toda a área foi revitalizada pelos alunos com o reflorestamento do manguezal.